Nos últimos tempos, acompanhar uma semana de moda requer olhos para o que está também do lado de fora: como se vestem as pessoas que tem acesso aos desfiles? O interesse para o que se passa na rua foi tão grande que veio o boom: os cliques de street style passaram a ganhar tanto ou mais espaço que os próprios desfiles. E para chamar a atenção dos fotógrafos, o povo se enfeitou – e como. Era uma fantasia só. Cansada disso, a respeitada jornalista Suzy Menkes falou em alto e bom tom em sua coluna no Times sobre o tal “circo da moda”, em fevereiro de 2013, que deu o que falar e sem dúvida trouxe uma reflexão sobre o assunto.
Como a moda e as tendências trabalham com opostos, enfim veio a hora de desligar os holofotes: esse ano, a palavra – e o comportamento – da vez é normcore, mistura de normal e hardcore, ou seja, “pessoas que não desejam se distinguir das outras pelo o que vestem”, como resume o Wikipedia. Normocore é basicamente ser normal: roupas mais simples, praticamente zero estampas, zero acessórios.
Embora o post aqui não seja sobre o normcore, já se percebe seu efeito de limpeza na imagem no street style dessa temporada de desfiles internacional (primavera/verão 2015) : muito branco, quase nada de estampa (quando tem, são umas listras aqui, um floral mais discreto ali), cores super neutras e uma elegância simples e linda. Nunca adorei tanto minhas camisetas brancas, cinzas, meus jeans e suéteres nos tons mais neutros que possam existir. Esse é o meu uniforme diário, que tanto achei sem graça (afinal, o legal era usar tudo ao mesmo tempo, finalizando com um super colar), mas que agora anda ganhando o destaque que merece.
Com o acesso a tantas referências de estilo, é fácil se perder em meio a um guarda-roupa lotado: a gente quer misturar estampas, cores, o high com o lo e ficar incrivelmente estilosa – como quem nos inspira – e muitas vezes o resultado final não tem a nada a ver com a gente. E olha o esforço que isso demanda! Tudo mundo aprendeu a misturar listras com floral e oncinha com tudo (eeeee) mas…não é de ficar cansada com esse esforço que muitas vezes não nos representa?
A imagem de um look cheio de referências e cor é realmente impactante, e eu gosto muito dela, mas traduzir isso pra minha vida real estava sendo um tormento. Olho a foto acima e uau: quero sair assim hoje e sempre. Calça e camiseta preta, um belo lenço, uma sandália delicada…não é ultra chique? Aliás, parece que quanto mais simples, mais chique é. E mais que isso, é atemporal.
E se eu quiser parecer descolada, volto aos anos 90 (vide primeira e última foto desse post) a última década em que menos era mais e eu nunca estive tão nostálgica com ela (o canal Viva! tem sido minha dose diária de saudosismo), com seus jeans usados com sandálias de salto ou scarpins de bico fino, blusas de alcinha, camisetas brancas ou camisas de algodão, tênis (ked`s, all star, rainha e afins), jeans Levi`s naquele tom de azul nostálgico… Menos esforço, muito mais eu. Foi legal experimentar estampas e misturas inusitadas ultimamente mas não estava sendo totalmente fiel a mim mesma. Quando li o texto – curto e sensacional – “Modismos envelhecem” que Gloria Kalil escreveu há poucos dias, pronto: era isso que eu estava buscando. No básico, no simples e no normal, finalmente me reencontrei.
Normcore: o termo foi cunhado em outubro de 2013 pela agência de tendências K-Hole, em conjunto com a Box 1824 de SP (você pode baixar o pdf dessa tendência grátis – é o youth mode, mas é em inglês):
“Once upon a time people were born into communities and had to find their individuality. Today people are born individuals and have to find their communities.”
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