Quem aí também acha que o tempo anda mais rápido a cada ano? Essa percepção parece que fica cada vez mais nítida conforme envelhecemos – e tem uma explicação para isso.
O tempo foi o tema da revista Dossiê Superinteressante de junho (a Dossiê é uma revista a parte, focada em um assunto) e trouxe uma revelação que tira da nossa cabeça de porque o tempo parece passar mais rápido. E adivinhe só: a rotina é a culpada.
Tudo porque o nosso cérebro cria memórias baseadas em experiências e não em quanto tempo elas duraram: o importante é o que aconteceu, e não o tempo que isso levou. Isso reforça a dica preciosa que uma outra reportagem ótima sobre felicidade da revista Superinteressante (tem post aqui) contou: fatie o tempo para criar mais boas lembranças – como nas férias, em vez de tirar os 30 dias de uma só vez e viajar para um lugar, tire em duas etapas e viaje para dois lugares. Assim, seu cérebro vai se lembrar de duas experiências e não de uma ou de quanto tempo você ficou em cada uma delas. Isso dá a sensação de que aproveitou mais o ano, a vida.
Viajar é um estímulo e tanto para a nossa memória. Ocasiões especiais também
E por que a rotina é a vilã da história? Oras, porque a rotina basicamente não deixa lembranças. Como fazemos sempre as mesmas coisas num dia comum – com uma ou outra leve alteração -, o cérebro condensa todos aqueles dias em uma só memória. Por isso é tão difícil se lembrar do que você fez numa semana inteira de afazeres triviais – e mais: faz parecer que passou voando! Já quando experimentamos coisas novas – um show que você foi, um novo restaurante, uma nova amizade ou até uma experiência desagradável mas inédita – o cérebro separa isso em uma coisa única, fazendo com que você se lembre com uma riqueza de detalhes mesmo que já tenha acontecido há muito tempo. E, como você já deve ter imaginado, a fase em que acontece mais coisas novas na nossa vida, vai dos 18 aos 25 anos – quando relembro meus anos de faculdade, tenho a nítida noção de que cada dia foi bem aproveitado, com tanta coisa nova acontecendo: os primeiros estágios, os amigos, festas, viagens… Com a vida adulta, essas novas experiências vão se tornando cada vez mais raras.
Rotina: fazer sempre o mesmo causa um impacto nada bom na maneira como percebemos o tempo
E mais: para quem passou ou está passando por uma experiência ruim, a percepção do tempo também é diferente, mais lenta.
Agora sabendo como nosso cérebro percebe o tempo da nossa vida, ficou fácil descobrir como reverter a tal da percepção condensada: é preciso criar o máximo de novas experiências para “alongar” nossa visão de tempo, ou seja, fazer com que um dia se destaque dos demais, sair do automático, o que na vida adulta exige um pouco mais de esforço: as primeiras vezes ficaram anos atrás e as coisas passam a ser mais repetitivas; mudanças e planos (como mudar de trabalho, fazer uma boa viagem e até tirar férias) se tornam mais trabalhosas, exigindo pensar melhor em cada questão. Vejo que depois dos meus 31 anos, o overthinking para qualquer decisão é muito mais exaustivo, percebo que há poucos dias memoráveis no ano (poderia condensar vários anos em uma memória só) porque a rotina ficou muito mais enraizada. Essa matéria clareou esse enigma dentro da minha cabeça e mostra, mais uma vez, que cada hora e cada dia merecem ser muito bem vividos.
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