Se me perguntassem isso quando eu tinha 10 anos, diria: ginasta. Aos 12, arquiteta. Aos 15, editora. Aos 17, estilista e logo depois publicitária. Aos 21, editora de novo. Aí veio o blog para sanar minha vontade de ter uma revista, mas ainda desejava trabalhar em uma. Hoje, aos 36 anos (ui), se me perguntarem o que eu quero, já não sei mais responder. Olho para o meu passado cheio de vontades e já não me encontro ali. Fiz um pouco de tudo porque tenho vontade de experimentar tudo. E aí que tá: quanto mais opções a gente tem, mais difícil escolher. Mas não basta só isso: com a idade e com as responsabilidades que ela traz (leia-se boletos), investir tempo e dinheiro em algo para ver se é isso que você quer, não soa muito animador. E aí fico só na teoria, no pensamento, mesmo sabendo que é na ação, na prática, que eu vou (me) descobrir.
“De longe, o maior erro que as pessoas cometem quando tentam mudar de carreira é esperar a definição de um destino para dar o primeiro passo (…) A única maneira de criar a mudança é colocando nossas possíveis identidades em prática, trabalhando e aprimorando-se até estarem suficientemente entranhadas com a experiência para orientarem passo mais decisivos (…) Aprendemos quem somos testando a realidade, não olhando para dentro (…)
A melhor reflexão vem depois, quando estamos sob o impacto e quando existe algo sobre o que refletir.”
Herminia Ibarra no melhor livro que li sobre o assunto trabalho: Como encontrar o trabalho da sua vida, de Roman Krznaric, da The School of Life
Ter tantos interesses acaba te paralisando: você não sabe qual escolher primeiro, quer um sinal dos céus para te ajudar e nessa, vi o tempo passar sem agir. A internet mudou e vem mudando demais – e rápido – o trabalho: profissões que não existiam foram criadas, outras estão em extinção. As revistas, meu grande sonho, estão se dizimando na era digital. O blog perdeu espaço para o instagram. Youtube está sofrendo baixas com os stories e o agora o IG TV. E eu estou perdida nessa coisa toda, sem saber pra que lado vou e pior, sem saber pra onde tudo isso vai tipo, ano que vem! E ainda aquela sensação de que todo-mundo-achou-seu-lugar-ao-sol-menos-eu.
Em busca de respostas, li livros, assisti a inúmeros Ted Talks (eles são ótimos), vídeos de coach e fritei minha mente buscando o que gostava de fazer na infância (muitas coisas), o que eu queria quando entrei na faculdade, quando saí dela, quando mudava de cada trabalho. Hoje, vejo o peso da rotina nas minhas escolhas: ela tirou aquela vivacidade, aquela vontade e a ideia de que o mundo é um quintal que posso acessar quando quiser. Fui criada num sítio, na praia, a 30 km da cidade – pequena – mais próxima. Trabalhei a vida toda ajudando meu pai e minha mãe no comércio que eles tem no litoral, o que significa que nunca tive férias e feriado, enquanto estudava e tentava criar uma carreira só minha durante a semana, a mais de 100 km dali – em épocas mais puxadas, me dividi em mil para dar conta. E isso tudo nunca me limitou, nunca achei nada tão impossível assim, acho que até me deu mais vontade. Olho pra trás e tenho orgulho do que construí. Mas depois dos 30, esse romantismo que tinha da vida se foi e até agora não voltou. Está faltando perspectiva.
E o tal de fazer o que se ama pode se mostrar uma cilada.
“Quando comecei a falar que é muito mais rápido e fácil encontrar seus talentos e habilidades e criar um negócio lucrativo com eles, muitos me disseram algo como: mas e as paixões, o foco não deve ser elas? Não. Isso é conversa de palco. Eu incentivo a saber exatamente quais são suas paixões, isso te dá um gás na hora de ir pra cima e empreender. Mas é um grande vacilo se concentrar nas suas paixões para ganhar dinheiro. (…)
Na minha visão, existem dois tipos de pessoas: As que sabem que são apaixonadas por algo e se dedicam dia e noite para transformar aquilo em Negócio ou em dinheiro de alguma forma. Mas acabam se frustando por descobrirem que, na maioria das vezes, não tem habilidades para fazer aquilo vingar e precisam de muito tempo de estudo e prática para ficarem bons naquela área. E as que escolhem usar seus talentos e habilidades e começar negócios que possam ganhar dinheiro de verdade, ajudar pessoas e crescer e ao mesmo tempo inserir suas paixões no negócio e na vida.
Se você busca empreender, pare de olhar para o que você é apaixonado e olhe para o que você pode fazer de bom agora. Com o tempo, experiência e dinheiro no bolso, você poderá viver suas paixões. “
@olheforadacaixa
A gente acha que não trabalhar no que se ama significa trabalhar no que se odeia, sem meio-termo. Se eu tenho alguma habilidade, com certeza ela tem algo a ver comigo. E a história de que talento é tudo e coitado de você que não tem nenhum especial, esqueça: o trabalho duro se sobrepõe a ausência de talento. E o talento sem trabalho duro, não é nada. Se você conseguir unir os dois, ninguém te segura.
“Não há substituto para trabalho duro e desejo.” Kelly Slater
Bom, toda essa teoria eu tenho decorada em minha mente, mas nada me aliviou a questão que dá título ao post – só Tony Robbins salva. Depois de passar pelo comércio, design gráfico, edição, fotografia e até banco (sim, era meu sonho trabalhar em banco e realizei, anos atrás), talvez eu tenha esgotado todas as minhas vontades que trouxe ao longo da vida e precise fazer uma nova, do zero. Para me encorajar, vou de Goethe, mais uma vez – e sempre perfeito:
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