Construída nos anos 1980, ela seguiu um esboço do arquiteto e tem jardins feitos por Burle Marx – último trabalho da dupla
A janela redonda com moldura de jacarandá dá o indício que essa casa de veraneio no litoral de SP não é tão simplória assim. As formas curvas são sem dúvida o traço mais marcante de Oscar Niemeyer e essa casa foi seu último projeto, em 1986. Projeto propriamente dito não, na verdade foi um esboço que ele fez para o amigo designer Marco Antônio Rezende, que construiu seguindo as instruções do arquiteto.
fotos: Roy Teixeira, reportagem AD Italia dezembro 2023
Com um telhado de estilo colonial, um tanto atípico no trabalho de Niemeyer, a casa tem jardim que chega à areia da praia, 350 m2, 3 quartos e um terreno de 2.700 metros. Foi colocada à venda em 2018 por R$ 6,9 milhões; com dificuldade para vender, o valor passou para R$ 4,3 milhões.
Uma reportagem feita por Francesca Angiolillo em 2019, explica a dificuldade de vender algo que não tem valor:
“depende de encontrar, na outra ponta do negócio, uma ave rara. É preciso que seja alguém com muito dinheiro e um amor tal por arquitetura a ponto de querer habitar um ambiente pensado pra outra época e que, em muitos casos, não pode ser modificado, pelo projeto ou por tombamentos de patrimônio histórico.”
E o ex-dono, Marco Antônio Rezende, acrescenta: “preferem casa com suítes, quartos e churrasqueira, todo um aparato de outra natureza.” E toca em um outro ponto:
“as pessoas preferem algo que aparente um nível social diferente.”
Mas a casa foi vendida para o galerista Pedro Mendes e sua amiga, a artista Sonia Gomes que, obviamente, quiseram renovar o imóvel. No começo, contrataram um estúdio de SP para a missão mas não estavam tendo o resultado que queriam, então entra em cena o escritório AR Arquitetos, de Juan Pablo Rosenberg e Marina Acayaba que precisaram da ajuda da Fundação Oscar Niemeyer e outras instituições para obterem os documentos e dar andamento ao trabalho.
A estrutura era usada como garagem e foi mantida
O mesmo piso, de concreto cor de areia, vai da varanda ao banheiro e, além de neutro, tem fácil manutenção
O óculo com moldura em jacarandá está em um ponto estratégico: mostra o Pico do Baepi, a montanha mais conhecida de Ilhabela. A cadeira é de Zanine Caldas
Móveis do anos 50 e 60 estrelam a decoração, feita pelo Grapa Studio
Cadeira de Lina Bo Bardi (para o seu edifício SESC Pompeia) e tela de Abdias Do Nascimento
Ao todo são 3 quartos e uma suíte
O jardim ficou a cargo de outro mestre, Burle Marx – quase um imposição de Niemeyer. Uma curiosidade é que os dois, apesar de amigos, sempre discutiam e nesse projeto, eles trabalharam separadamente, sem se ver, pois estavam brigados. A restauração do jardim ficou por conta de André Paoliello
Uma reportagem da Folha de SP mostrou a casa quando foi posta à venda:
Fernando Tomanik
Ainda bem que encontraram a tal ave rara, para trazer novamente à vida esse último projeto da dupla Niemeyer e Burle Marx.
Deixe um comentário